Independência e Verdade

DECOLORES SÁ BARRETTO


No dia 21 de fevereiro seria o aniversário do inesquecível e saudoso Raymundo Pacheco Sá Barretto, que nasceu exatamente em 21.02.1924 em Ilhéus, terra que tanto ele amou.
Fui fã incondicional de Sá Barretto, sempre o achei uma figura carismática, querida, que persuadia a todos com aquele bate papo gostoso.
A nossa amizade cresceu a partir do Movimento de Cursilhos de Cristandade, onde trabalhamos e fizemos parte da Diretoria, além de ter viajado por toda Diocese de Ilhéus, pregando o evangelho de Jesus Cristo. Suas palestras eram emocionantes, enriquecidas de verdadeiros testemunhos e sempre era aplaudido de pé por toda platéia.
No Cartório atendia a todos que o procurava, ricos e pobres, todos eram atendidos com sua admirável atenção, A cada escritura ou reconhecimento de firma, ele contava uma história sobre algum personagem daquela família, principalmente quando era de Ilhéus. A conversa era demorada, interessante, pois ele contava fatos sobre a família do cidadão. que nem o mesmo conhecia.
Fazia inúmeros comentários sobre a política local, estadual e federal e foi até apelidado de Senador Sá Barreto.
O seu sonho era ser Prefeito de Ilhéus, infelizmente não foi possível, pois a opção do eleitorado foi para o mais moderno.
Durante nossa convivência de amigos e irmãos em Cristo, pude captar muito de suas experiências , seus conselhos e suas historias , que muito tem servido para tocar minha vida.
Certa vez estava em sua fazenda em Buerarema, por ocasião de seu aniversário, que era festejado com muita fartura de comida
e bebida, de repente o administrador da fazenda veio fazer queixa dizendo: “Sá Barreto, os peões estão bebendo de seu whisky”. E O mesmo respondeu: “ E daí? Se não fosse eles, eu não poderia também beber!”
Nessa fazenda tinha um criatório de patos, e Sá Barreto vez em quando mandava abater um pato, para comer assado ou ao molho pardo, levado a um bom whisky ou um verdadeiro vinho chileno.
Ao passar os tempos, os patos foram sumindo pouco a pouco, até que foi dizimada a criação. Sá Barreto chateado, questionou ao administrador pelo sumiço dos patos e o mesmo logo respondeu: “Os patos foram devorados pela raposa”.
Tempos depois esse administrador foi demitido por outras razões, e ao procurar Sá Barreto para assinar sua demissão, foi questionado: “Vou registrar em sua carteira o sumiço dos meus patos”. O administrador por sua vez pediu desculpas.
Daí que, a partir desse episódio quando alguém mostrava-se mais esperto, ele dizia: “ Você quer passar de pato a ganso?”.
Ele sempre comentava que a pessoa para ser lembrado teria que estar sempre na arena, pois ao contrário era esquecido pelos amigos.
Certa vez lhe falaram sobre o movimento da melhor idade, que era formidável e que ele deveria entrar: a resposta foi imediata: “agradeço seu convite, deixe-me de fora desse movimento, pois a velhice é a ressaca da juventude”.
Quando candidatou-se a prefeito, recebia visitas de vários correligionários políticos, e todos achavam-se donos dos votos dos eleitores de seu bairro e distritos, alguns até apresentavam os títulos de seus eleitores, provando assim a sua liderança política. Os pedidos de ajuda eram variados: telha de Eternit, cimento, tijolo, roupa, sapatos, até dentadura. Certa vez um correligionário pediu que as doações fossem exclusivas para seu
distrito, foi quando Sá Barreto respondeu: “Você só reza para chover em sua roça, na do vizinho, nada?””
Em outra oportunidade, um cidadão sempre o procurava para pedir alguma coisa, e por ser chato e inconveniente, Sá Barreto lhe pediu um favor: que levasse um bilhete seu na delegacia de policia e entregasse diretamente ao Delegado e que obtivesse a resposta. O bilhete foi escrito assim: “ Caro amigo Delegado, peço dar um jeito nesse sujeito”. O delegado imediatamente prendeu o cidadão. Dias depois, o Delegado ao passar pelo Cartório , comunicou que o cidadão encontrava-se preso, conforme solicitação. Sá Barretto, aos risos e prantos, falou ao Delegado que foi uma brincadeira, pois ele queria mesmo livrar-se daquele sujeito e pediu paqra soltá-lo.
Certo dia ele recebeu a visita de uma pessoa vistosa, que dizia ser funcionário do Itamarati, e que sua missão era de comunicar que lhe seria outorgado o titulo de “Comendador”, pelos relevantes serviços prestados a região cacaueira. Sá Barreto ficou bastante contente, agradecendo pelo honroso titulo. Logo depois o tal funcionário pediu-lhe uma vultuosa quantia para pagamentos da emissão do honroso titulo. Sá Barreto por sua vez disse que não lhe interessava pelo titulo de Comendador, e que procurasse outra pessoa que gostava dessas honrarias.
Contava também, que havia em Ilhéus um Delegado de Policia que residia no Pontal, e certa vez ao embarcar na lancha, teve os processos que estavam em sua mão numa pasta, caído no mar. O delegado exclamou em voz alta: “ A justiça andava precisando de tomar um banho!”
Durante toda sua vida foi caridoso, gostava imensamente de ajudar os menos favorecidos nas horas do sofrimento , principalmente quando tratava-se de falecimento. Daí é que ele recomendava que fizesse o funeral com Wandeco da Funerária São Jorge, e ao discutir o preço do caixão, Wandeco dizia: Sá Barreto, vou lhe dar um desconto, para você ficar freguês!”. Por
sua vez a resposta era: “ Não quero nunca ser seu freguês, pois ainda vou urinar r em sua cova. Rsrsrsrsrs”
Contou-me também que foi agente do Loyde Brasileiro, na época em que o velho porto recebia navios de várias nacionalidades. Um dos funcionários certa vez pediu para sair mais cedo, pois estava doentio com problema na “horta”. Ao terminar o expediente, passou perto do bar “Atlantico” na Av.Dois de Julho, próximo a antiga feira, e logo avistou o referido funcionário bebendo cerveja. Foi quando ele exclamou para o citado cidadão: “ Tá regando a horta hein seu fulano de tal.?..” E o mesmo saiu de mansinho, pedindo-lhe desculpas.
Em outra ocasião, Sá Barreto participava de um aprofundamento espiritual, quando um participante falou que a Igreja iria se acabar. Em resposta ao participante, Sá Barreto exclamou: “Meu irmão, a Igreja jamais acabará. A Igreja é de Jesus Cristo, e não tem cristão que a destrua ”. Foi amplamente aplaudido por todos.
Ele fez parte da Diretoria do Conselho Consultivo do Cacau, e tendo em vista das reuniões serem bastante prolongadas e não terem nenhum resultado, ele costuma dizer que o nome da entidade era “Conselho Cansativo do Cacau”.
Lembro-me que ele gostava de jogar na loteria federal, e os bilheteiros Clóvis, Pedro Azarão e André, todo dia iam oferecer os bilhetes da “sorte”. Muitas vezes ele relutava em adquirir, dizendo que estava cansado de gastar dinheiro em vão, e que os bilheteiros vendiam “bilhetes branco”, que ninguém nunca tinha ganho prêmio algum. Após muitas insistências, os bilheteiros deixavam os bilhetes em sua mesa para receber depois.
Um belo dia um cobrador foi no seu Cartório fazer uma cobrança, sendo recebido elegantemente, Sá Barreto pediu que o mesmo retornasse na segunda feira, pois estava naquele momento desprovido de tal numerário. E chegando o dia marcado, o cobrador chegou exatamente às 8:00 horas da manhã e dirigiu-
se ao mesmo, apresentando-lhe a duplicata vencida. Sá Barreto olhou para o cobrador e perguntou que dia era aquele. O cobrador respondeu: “segunda feira, exatamente o dia que o senhor marcou para pagar”. Aí ele respondeu: “Eu sou alguma prostituta para acordar na segunda feira com dinheiro no bolso” rsrsrs. E logo em seguida o débito foi pago e o cobrador saiu feliz, dizendo “esse Sá Barretto é gente boa”.
Inúmeras vezes fui convidado para almoçar em sua residência, principalmente quando tinha visita uma ilustre como a do escritor Jorge Amado. Certo dia perguntaram -lhe qual o segredo da sua cozinheira para fazer comidas tão apetitosas? Sá Barreto respondeu que sua cozinheira dormia com a mão na virilha. Rsrsrsrsrsrs.
Dia 21 de julho completa 07 (sete) anos de falecimento desse inesquecível Ilheense, que amou esta terra, deixando milhões de saudades. Tenho certeza que ele estar lá em cima batendo aquele papo com Dom Tepe, Berá, Mesquita, Mario Reis, saboreando seus acepipes e aquele whisky suave.

Luiz Castro
Bacharel Administração de Empresa
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