A menos de 20 dias do início da contraditória e polêmica Copa do Mundo, na cidade de Ilhéus é anunciada mais um aumento da tarifa (passagem) do transporte “público” coletivo pela prefeitura municipal passando a custar mais 20 centavos, pulando do valor de R$ 2,40 para R$ 2,60 e como todo aumento, vem acompanhado de promessas de melhorias. Mas que melhorias são essas? Seria o passe livre para estudantes, idosos e desempregados? A tarifa zero para todos? Infelizmente não. A prefeitura anunciou medidas de inovações, requalificando e renovar a frota em 25%, criação de nova linha circular, implantação de bagageiros em veículos que atendem as linhas do interior, criação de duas novas linhas para a (UESC) e Salobrinho, além de espaço para descanso de motoristas e cobradores no terminal urbano. Soma-se a estas medidas a instalação de GPS em 100% da frota de ônibus e implantação de painel, tipo telão, no Terminal Urbano, com informações gerenciais online do sistema de transporte e com finalidade de justificar e legitimar todas essas novas medidas, inclusive o aumento da tarifa para R$ 2,60 o prefeito se utiliza do resultado da auditoria realizada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE), contratada para realização de estudos sobre o sistema de transporte coletivo de Ilhéus. De acordo com essa tal FIPE (que inclusive desconhece a realidade do transporte público nosso de cada dia), as empresas poderão efetuar um reajuste de 20 centavos no valor da tarifa, que passaria de R$ 2,40 para R$ 2,60, a partir do próximo dia 1º de Junho e o Prefeito completa seu feito dizendo: “fizemos a consultoria para que houvesse um reajuste justo para todos” já que a empresa solicitou um aumento para R$ 3,19.
O prefeito também faz questão de informar que sua Secretaria do Desenvolvimento Urbano (SEDUR) opina também pela tarifa de R$ 2,60 e um despacho da Procuradoria Geral do Município afirmando que a revisão e aumento da tarifa é legal porque está prevista no contrato. Se existe um contrato que garante o aumento da tarifa, porque por amor a Ilhéus, carinho e respeito aos Ilheenses não revê esse contrato?
Mas me diga você, que diariamente utiliza esse sistema de transporte que de público só tem nome, se esse aumento de R$ 2,40 para R$ 2,60 mesmo com todas as benfeitorias prometidas é algo legal pro seu bolso? É importante lembrarmos que não deveria existir um aumento de tarifa, mas sim sua redução por motivos claros e simples.
Ano passado, em junho de 2013, logo após a onda de protestos e isenção de impostos por parte do governo federal através da Medida Provisória nº 617, de 31 de maio, que zerou as alíquotas da contribuição para o PIS/Pasep e da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) para o transporte coletivo municipal rodoviário, várias prefeituras impediram os aumentos e anunciaram a redução das tarifas de transporte público. Algumas delas como Porto Alegre (RS), João Pessoa (PB), Campinas (SP), Cuiabá (MT), Foz do Iguaçu (PR), Manaus (AM), Paranaguá (PR), Vinhedo (SP) e Valinhos (SP) fizeram ao contrário do que a prefeitura de Ilhéus quer realizar este ano. Evitaram o aumento e foram além reduzindo drasticamente o valor das tarifas em benefício da população. Já nas cidades de Feira de Santana (BA) Teixeira de Freitas (BA) e até mesmo no estado do Amapá (AP), o avanço foi maior, evitando aumentos e garantindo o passe livre estudantil para os e as estudantes.
Este ano de 2014, ano de copa do mundo, a luta pelo transporte público também não está sendo diferente, aliais, a única diferença são os grandes meios de comunicação (globo, Record, revistas, rádios, etc) se calando diante de inúmeras manifestações contra a nova tentativa de aumento das tarifas nas cidades Brasileiras.
Na cidade de Ilhéus, as ações e manifestações de 2013 impediram o aumento da tarifa permanecendo o valor atual de R$ 2,40. No entanto porque diferentemente de quase 60 cidades do país, o preço da tarifa não reduziu como deveria ter ocorrido? Porque ao invés de reduzi-la agora a prefeitura municipal de Ilhéus tenta aumentar a tarifa, inclusive descumprindo a Lei Federal 12.587/12, chamada de Política Nacional de Mobilidade Urbana, que estabelece como direito instituído ao usuário do transporte “participar do planejamento, da fiscalização e da avaliação da política local de mobilidade urbana”. Esse direito nos foi completamente negado.
Para justificar o aumento da tarifa para R$ 2,60 a prefeitura promete inovações, renovações, implantações de novas linhas e até mesmo GPS nos ônibus. Mas qual a real garantia de acesso ao nosso direito à cidade? Porque ela não realiza uma audiência pública para punir as empresas que descumprem os contratos que tem conosco como mostrado na imagem logo abaixo ao invés de beneficiá-la com mais lucros à custa do suor dos trabalhadores e estudantes?
Real inovação é a tarifa zero, é o passe livre, ao invés de aumento de tarifa.
Até quando continuaremos sendo transportados pela cidade, feito sardinhas, em pé ou nos degraus? Até quando nós, trabalhadores e estudantes, continuaremos inertes aos mandos e desmandos dos empresários ao descumprimento e insuficiência da nossa demanda? Até quando não teremos linhas descentes e suficientes para os distritos da cidade de Ilhéus? Até quando continuaremos dependentes de um sistema de transporte que apenas beneficia os empresários com lucros e os políticos com financiamentos eleitorais a cada ano de campanha eleitoral como mostrado nos blogs?
Até quando seremos apenas espectadores e quando passaremos a ser protagonistas de nossa liberdade? Que seja agora! Libertemo-nos! Uma cidade só existe para quem pode se movimentar por ela e a única maneira de termos o nosso direito de ir e vir exercido é nós implantarmos através de nossa luta um transporte verdadeiramente público, sem tarifas, sem catracas. As catracas estão em nossa mente, nos impedindo de exercer nosso direito à cidade que pertence a nós, não aos empresários algozes que priorizam o lucro.
A nossa lei orgânica do município de Ilhéus no Art. 269 demonstra claramente a impotência da Câmara de Vereadores quando no § 6º apenas estabelece antes de qualquer aumento das tarifas uma análise e emissão de parecer do legislativo, sem prever uma possibilidade da Câmara, legitimamente eleito pelo povo através do voto direto, poder impedir a vigência desumana de uma tarifa no valor de R$ 2,60. Além também da existência de um Conselho Municipal de Transporte que no Art. 278 apenas fica estabelecido a este (composto por membros do poder executivo, legislativo e sociedade civil organizada), a atribuição de fiscalizador e auxiliador ao invés de ser uma ferramenta deliberativa de impedir o avanço das tarifas.
Devemos ter clareza quanto a discussão do aumento da tarifa ou mesmo da existência dela que as jornadas da juventude em junho do ano passado, mostrou nitidamente por meio da organização, mobilização e demonstrativo de força popular que a tarifa não é uma questão técnica mas sim algo que depende de uma decisão política, uma vontade política dos gestores municipais de aumentar ou diminuí-la ou até mesmo extinguir a única coisa que impede de circularmos pela cidade, de viver a cidade de Ilhéus.
Somente determinado setor é excluído de seu direito de ir e vir. A tarifa, seu aumento ou sua existência é excludente, confina e aprisiona os estudantes e trabalhadores em suas periferias, em seus bairros, impede a utilização das praças públicas, das bibliotecas públicas, da universidade pública. A prefeitura por ser a única em gerir o transporte coletivo, precisa envolver a população em decisões tão importantes como é a decisão do aumento da tarifa que influencia diretamente a vida de cada um onde seu aumento demanda mais recurso para o transporte que deveria ser verdadeiramente público. A prefeitura precisa reconhecer o transporte como direito social, assim como a saúde, a educação, o lazer, já que para acesso a todos esses direitos também necessita-se do serviço público essencial que é o transporte.
Devemos ter consciência portanto de que não somos gado, nem arroz e nem feijão para sermos transportados de qualquer maneira. Apenas alimentando o lucro indiscriminado dos cartéis, monopólios e oligopólios do transporte coletivo.
Ano passado saímos às ruas, mostramos a força do poder popular, impedindo o aumento da tarifa, não podemos e não queremos mais ser reféns do transporte coletivo 365 dias, não queremos o aumento da tarifa para R$ 2,60, devemos dizer nas ruas o que queremos. A democracia como o regime da lei e da ordem é a definição mais pobre de seu conceito. A democracia é em primeiro lugar que considera o conflito social e conflito político, legítimo e necessário não devendo nem ser ocultado nem reprimido mas ser explicitado pelo ofício da própria sociedade. É no conflito que criamos direitos não apenas sociais mas também econômicos, políticos e culturais.
A prefeitura não cumpriu a legislação e não nos convidou para discutir esse aumento de tarifa para R$ 2,60, mesmo sabendo que nossa indignação aumenta a cada giro de catraca, a cada ônibus lotado, a cada linha inexistente, a cada coletivo sucateado e a cada direito negado. A prefeitura precisa entender que não aceitaremos calados, esses aumentos principalmente quando justificado por uma auditoria sem participação popular e que mesmo com a tentativa de desmobilizarmo-nos estabelecendo o aumento a menos de 20 dias da copa da FIFA, transformaremos o nosso sufoco cotidiano não mais em lucro para poucos, mas sim combustível para permanecermos em luta até que o poder popular for respeitado. Ou decidimos nos organizar e lutar pelos nossos direitos ou permaneceremos sendo organizados em função dos que nos oprimem.
Tod@s CONTRA O AUMENTO DA TARIFA RUMA A UMA VIDA SEM CATRACAS! REAJA ILHÉUS!
*Marcos Vinicius Vieira Reis é graduando em História pela Universidade Estadual de Santa Cruz, Coordenador na Bahia da União dos Estudantes do Brasil, Membro da Frente Ampla de Estudantes.
monta uma empresa contrata todos os funcionarios tarifa zeros pra todos q vc achar e vai ver onde vai parar seu mané
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