Jequié e Guanambi, no Sudoeste baiano, além de Teixeira de Freitas, no Extremo Sul, estão vivendo um surto de dengue. As informações são da Secretaria da Saúde do Estado (Sesab) e se referem aos casos registrados nos 57 primeiros dias do ano.
É caracterizado surto quando o número de ocorrências supera a média histórica dos últimos dez anos. Em Jequié, por exemplo, apenas na semana passada foram 74 casos notificados — mais que o dobro da média histórica (35,2) registrada no município no mesmo período.
Apesar do crescimento nestas cidades, a coordenadora do Comitê Estadual de Dengue, Maria Aparecida Figueiredo, diz que ocorreu uma redução de 16,7% na quantidade de casos registrados de janeiro até ontem no estado — de 10.759 em 2012 para 8.956 este ano.
Os números contradizem levantamento divulgado segunda-feira pelo Ministério da Saúde que apontou um crescimento de 12% dos casos de dengue na Bahia, em relação aos mesmos meses do ano passado. A coordenação estadual diz apurar se houve erro no repasse dos dados para o governo federal — que é feito pela própria Sesab.
Maria Aparecida alerta para a possibilidade dos números serem maiores, já que muitos casos não são investigados e tratados como dengue. “Há uma confusão grande entre as viroses da época com a contaminação pelo Aedes aegypti”.
Alerta
Na Bahia, os municípios estão sendo alertados para as medidas de diagnóstico e controle. Os dados levam em conta os casos registrados em unidades de saúde e não o índice de infestação predial, feito a partir do Levantamento de Índice Rápido para o Aedes aegypti (LIRAa) de janeiro deste ano. De acordo com este índice, Itabuna é a cidade baiana com maior risco de infestação e terceira do Brasil.
Em Salvador, dados da Vigilância Epidemiológica do Estado apontam que até o momento foram registrados 149 casos de dengue. No ano passado, nesse mesmo período o número era de 1.646 notificações.
A diferença dos números pode ocorrer em razão dos dados ainda não terem sido computados no sistema da Sesab. “A administração mudou, então muitas informações podem ainda não ter chegado”, explica Zilda Afonso Torres, técnica da coordenação.
Na capital, o risco de uma epidemia cresce nos meses de março e abril — quando começa o período de chuvas e de eclosão das larvas do mosquito.
Novo vírus é responsável pelos casos deste ano
O sorotipo 4 (DENV-4) da dengue é o responsável pela maior parte dos casos identificados este ano. O pesquisador e diretor da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) na Bahia, Mittermayer Galvão, lembra que não existe um sorotipo mais grave.
“O risco se deve ao fato de que, por ser novo, ninguém tem proteção contra essa variedade de vírus”, esclarece, lembrando que a forma hemorrágica, a mais grave, pode se manifestar em qualquer pessoa que já tenha sido contaminada com qualquer um dos sorotipos
(DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4).
Os quatro sorotipos de dengue causam os mesmos sintomas: dor de cabeça, dores no corpo e nas articulações, febre, dor atrás dos olhos, diarreia e vômito. O tratamento também é o mesmo, para qualquer um dos vírus.
O especialista lembra ainda que cada sorotipo permite que a pessoa infectada, uma vez curada, tenha imunidade para aquela forma da doença para o resto da vida. “Como são quatro formas, nada impede que uma mesma pessoa possa ser infectada quatro vezes por cepas diferentes”.
Alerta para crianças, adolescentes e adultos jovens
Depois de 28 anos fora de circulação no Brasil, o DENV-4 foi detectado novamente em julho de 2010, em Boa Vista (RR). Devido ao longo período sem circulação, há milhões de brasileiros (especialmente crianças, adolescentes e adultos jovens) sem imunidade contra esse sorotipo.
No entanto, o diretor da Fiocruz na Bahia, Mittermayer Galvão, lembra que as crianças menores de 9 anos também não tiveram contato com o sorotipo, ampliando os riscos para essa faixa etária. Não existem medidas de controle específicas contra a dengue, uma vez que não se dispõe de nenhuma vacina ou drogas antivirais.
Febre pode variar segundo gravidade
A cada apresentação da dengue, a pessoa pode manifestar um quadro clínico com diferentes níveis de gravidade, que vão desde a febre indiferenciada, comum à maioria das viroses; a febre de dengue, também conhecida como dengue clássica, que tem como sintoma uma febre repentina, com dores no fundo dos olhos, dores musculares e nas articulações e manchas na pele; a forma hemorrágica, quando há saída de plasma dos vasos sanguíneos e sangramentos, com a síndrome do choque da dengue.
De acordo com as recomendações do Ministério da Saúde, o choque da dengue geralmente acontece entre o 3º e 7º dia da doença na sua forma mais grave e vem acompanhado por um ou mais sinais de alerta, que são dores fortes na barriga de maneira persistente; vômitos incontroláveis; repentina mudança da temperatura do corpo, acompanhada de suores intensos; alteração do comportamento, variando de sonolência à agitação. Quando o paciente é submetido à terapia antichoque apropriada, a recuperação é rápida.
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